Não culpo ninguém pelas mazelas que passei. Se sofri, foi porque permiti. Acredito nisso, sabe. Nessa história de que é a gente que se permite ficar bem ou mal. Ninguém te induz a nada, ninguém te obrigada a nada.
E também não é questão de querer. Simplesmente acontece.
Por diversas vezes, fui fundo dentro de mim. Pelo caminho, encontrei musgos, espinhos e o que sobrou de um jardim que foi bonito um dia. Sofri alguns arranhões, cai diversas vezes e até cheguei a me perder. O trajeto mais parecia um labirinto.
E do lado de fora, havia inúmeras sanguessugas que roubavam minha energia sem dó e nem piedade. Elas levavam o melhor de mim. Tinham uma fome insaciável.
Fiquei com a sobra, com o resto. E fiz do resto a minha melhor parte.
Duro é se reerguer do nada. Sem caminho e direção certa. Não que haja algo certo nessa vida. Somos feitos de imprevisto, de improbabilidade, de incerteza. Que graça teria se soubéssemos o capítulo final de nossa história?
Sair do vale escuro me exigiu muito esforço. Ouvia vozes me dando apoio, mãos querendo me puxar para cima. Nem todas elas foram fortes o suficiente para agüentar meu peso que tinha triplicado.
Poucos resistiram, poucos aguentaram. Dá até para contar nos dedos aqueles que não ofereceram as costas. Via a claridade ao fundo e me permiti sair desse lugar imundo. Sombrio. Nefasto.
Apertei o pausei e parei o filme. Decidi que a minha moradia seria todas as coisas que gosto. Entupi-me de palavras, de histórias que não eram minhas e de canções cantadas por outras vozes.
Deslizei por muitos caminhos até encontrar aquele em que poderia seguir com segurança. No momento certo, retornei para minha antiga casa. Deparei-me com o abandono e a partir daí, tomei uma das decisões mais importantes de toda a minha vida: a reconstrução.
Arranquei o antigo telhado e o substitui por um novo. Descontente com os velhos móveis, comprei outros mais bonitos e mais coloridos. Replantei as flores no jardim, reguei as poucas que sobreviveram. Iluminei a casa com luzes mais fortes. Dei vida ao novo lar.
Tempestades e terremotos já assolaram a minha casa. Mas dessa vez, sinto que ela está mais resistente. Mais firme. E talvez um pouco mais difícil de ser habitada. De servir como moradia provisória.
Permanência.
O tempo passa e a gente fica cada vez mais exigente. Deixando cada vez menos as arestas abertas. Vendo graça em outras coisas. Dando mais valor aos pequenos prazeres. As pequenas miudezas.
Por isso cuidado meu bem, há perigo na esquina! Eles venceram e o sinal está fechado prá nós, que somos jovens.
quarta-feira, 8 de dezembro de 2010
quinta-feira, 23 de setembro de 2010
Capacidades do amor

Talvez o que mais nos assuste quando o amor vem à tona seja essa habilidade que ele tem para revelar os nossos medos todos. As nossas belezas. As nossas feiuras. As nossas sementes que puderam florescer com viço. As nossas sementes que não conseguiram dizer suas flores. As nossas sementes que temem florir. Talvez o que mais nos assuste quando o amor vem à tona seja essa habilidade que ele tem para revelar as nossas borboletas que souberam se desvencilhar dos casulos. As nossas crisálidas apavoradas por se saber com asas, embora sonhem, encantadas, com o néctar da vida. As nossas feras vorazes e ressentidas. Talvez o que mais nos assuste quando o amor vem à tona seja essa habilidade que ele tem para revelar os nossos avanços. A nossa estagnação. Os nossos fracassos. As nossas vergonhas. As nossas vaidades. A nossa arrogância, que muitas vezes não é outra coisa senão um disfarce que o embaraço usa para esconder o conflito por sentirmos tanto afeto sem saber direito como expressá-lo. Como fazê-lo circular.
terça-feira, 14 de setembro de 2010
Desatino

Eu escrevo teu nome nessas pedras, que vou jogando por onde passo. No fundo, espero que você me siga, mas não tenho coragem de pedir. Aí, tem gente que vem, sem nem ser chamado, sem nem se importar com o fato do nome escrito ali, ser outro. As pessoas não ligam pr‘essas pequenezas, sabe? Eu ligo. Ligo pra tudo. Sou mais de detalhes, que do todo. Sempre fui. O fato é que fico olhando pra trás pra ver se você tá vindo e já tropecei umas quantas vezes. Esses dias mais. Isso porque não sinto teu cheiro no ar, não ouço o teu riso passeando pelas horas. E sinto falta. E sinto um quase-medo. Embora, não tenha a menor idéia de quê. Sabe quando você pressente o monstro no escuro, mesmo sem poder vê-lo? É assim. Não sei se você entende, não sei se alguém entende e, realmente, não me importo. Não me importo mais com um monte de coisas. Dos benefícios do tempo. Hoje, parei e sentei bem aqui na beira desse rio que me atravessa. Só pra te pensar bem forte e te fazer sentir amor do lado de lá. Sim, porque você ainda não atravessou a ponte, bem sei. Mas, ando me sentindo fraca e cansada. Tenho andado demais, jogado pedras demais, esperado demais e você não me alcança. Talvez, seja melhor mergulhar e afogar os pensamentos. Espero que você consiga chegar a tempo e salvar os mais bonitos.
sábado, 4 de setembro de 2010
Escolhas

Eu escolhi te amar. Escolhendo então esperar, o momento certo, pra tudo acontecer. Eu te escolhi, mesmo sabendo que não poderia estar com você. Eu escolhi não saber o rumo disso tudo, eu escolhi apenas mergulhar. Eu escolhi a intensidade desse
sentimento. Eu escolhi ouvir, ao menos uma vez, o meu coração. Eu escolhi o que a distancia não separa, eu escolhi o que está firmado na rocha. Eu escolhi me contentar em ouvir a tua voz. Eu escolhi o melhor para nós. Eu escolhi, mesmo sendo talvez escolhas erradas. Eu escolhi sofrer, mas seguro de que não é em vão. Eu escolhi o que eu quero, e o que eu quero é você. Eu apenas escolhi te amar.
quinta-feira, 2 de setembro de 2010
Quando não tivermos amor -Clarisse Lispector

Quando fazemos tudo para que nos amem e não conseguimos, resta-nos um último recurso: não fazer mais nada. Por isso, digo, quando não obtivermos o amor, o afeto ou a ternura que havíamos solicitado, melhor será desistirmos e procurar mais adiante os sentimentos que nos negaram. Não fazer esforços inúteis, pois o amor nasce, ou não,espontaneamente, mas nunca por força de imposição. Às vezes, é inútil esforçar-se demais, nada se consegue; outras vezes, nada damos e o amor se rende aos nossos pés. Os sentimentos são sempre uma surpresa. Nunca foram uma caridade mendigada, uma compaixão ou um favor concedido. Quase sempre amamos a quem nos ama mal, e desprezamos quem melhor nos quer. Assim, repito, quando tivermos feito tudo para conseguir um amor, e falhado, resta-nos um só caminho: o de mais nada fazer.
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